Economia

O Pibinho Dos Parasitas

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Dóris Castro e Roger Amarante – Provar que a economia voltou a crescer é tão importante para os capitalistas em geral – empresários da indústria, comércio, serviços, agronegócio, banqueiros e outros incontáveis parasitas do sistema – que o governo escalou seu mais importante articulador político para levantar a moral da tropa da Avenida Paulista e do Complexo do Alemão depois do inacreditável pibinho de 1% de crescimento em 2017.

Veja o que diz o eminente e honestíssimo ministro Carlos Marun (Secretaria de Governo) sobre os que disseram que o crescimento de 1% do PIB em 2017 ainda é muito pouco: “O crescimento do PIB acima do esperado é um ‘cala boca’ na caravana do atraso que insiste em dizer que não estamos no caminho certo”.

Todo mundo conhece de longa data as habilidades políticas e outras menos confessáveis do antigo braço direito de Eduardo Cunha, na Câmara dos Deputados, e agora de Michel Temer, no Palácio do Planalto. Está sempre boiando leve e pastoso em qualquer governo.

Carlos “Marrom” Marun é a mais completa tradução da alma burguesa genuinamente brasileira. Sua inabalável correspondência entre política e economia. Dementes superestruturas e podres bases materiais. Estridente síntese da cordialidade dos irritantes diminutivos pessoais com o orgulho vazio de conteúdo de ser brasileiro. Sergio Buarque e Mário de Andrade já escreveram criticamente o necessário sobre essas imundas personagens burguesas da brasilidade.

Agora todos tem essa grata surpresa de conhecer sua mente brilhante também nos assuntos econômicos. Vejamos mais de perto este seu brilhantismo.

É claro que ele não está sozinho em sua alentada avaliação do robusto pibinho brasileiro de 2017. Basta ligar o smartfone, a televisão, abrir algum jornal ou revista, e sentir na pele que seu incontido ufanismo com a obra e pensamento econômico de Temer/Meireles é perfeitamente compartilhado por todos os economistas do mercado e a grande mídia nacional e internacional – sem esquecer todos os demais serviçais dos investidores externos e internos desta florescente economia ao sul do equador.

Recordar ajuda a entender essa cara de pau desses arquitetos especializados em destruição de economias dominadas do sistema imperial. Pois foi justamente essa caravana do progresso de Marun que, no final de 2012, criou a palavra “pibinho” para desqualificar os resultados econômicos daquele ano.

Todo o sistema imperialista pedia a cabeça de Guido Mantega, antigo ministro da Economia que ousou fazer política fiscal e monetária de gente grande (EUA, Alemanha, Japão) em uma economia dominada da periferia que nem moeda nacional tem.

Os ataques contra o autor dessa heresia só cresceram a partir de então. Até conseguirem cortar a cabeça da única coisa inteligente dos dois últimos governos neopopulistas de Luís Inácio da Silva e de Dilma Rousseff. E, finalmente, instalar em seu lugar os facínoras Joaquim Levy e, mais recentemente, Henrique Meireles.

Mantega insistia em fazer uma inteligente política econômica anticíclica para tentar salvar o Estado nacional da ingovernabilidade política e da catástrofe social que agora se presencia. E, como vimos em recente boletim, se alastra como metástase por todo território nacional.

O pibinho de Mantega, que a banda imperialista considerava uma catástrofe, foi de 1.9% em 2012 e 3.0% em 2013. A percentagem dos investimentos em relação ao PIB, também conhecida como FBC (formação bruta de capital), foi de 21% em 2012; Em 2013, foi de 21,4%; em 2014, de 20,4%.

No governo Temer/Meireles a FBC desabou catastroficamente em 2016 (para 16,9%) e em 2017 (para 16,6%). É isso que denominamos de arquitetura da destruição de uma economia. O resto é conversa mole.

Pode-se relembrar aquele quiproquó das forças imperialista e seus reprodutores nativos relendo-se pelo menos dois boletins da Crítica da Economia da época. “O pibinho é nosso”, de dezembro de 2012 e “Patologias do Imperialismo” de dezembro de 2013. A burguesia imperialista começava a mudar de pele.

É verdade que a propaganda do honrado e todo poderoso Temer, o novo eleito pela burguesia e pela Globo para comandar a matança da classe operária em curso – é feita de maneira mais ou menos envergonhada. E, esparsamente, como “paradoxos” de uma vigorosa economia.

As perguntas são inevitáveis: por que a recuperação da economia não impulsiona os pré-candidatos do governo à Presidência? – A angústia dos capitalistas quanto à impotência da recuperação econômica nacional é medida pelos seus resultados políticos e eleitorais:

“depois de dois anos em queda, o PIB (Produto Interno Bruto) voltou a crescer no ano passado, com alta de 1%, conforme os dados divulgados nesta quinta-feira (1º) pelo IBGE. Quando vai bem, a economia costuma ser aliada do governo. Quando vai bem, a economia costuma ser aliada do governo nas urnas e nas pesquisas de popularidade. No entanto, os dados que mostram que a atividade está em recuperação no Brasil não têm praticamente surtido efeito sobre a rejeição recorde do presidente Michel Temer, apontada pelas pesquisas, ou sido suficientes para melhorar sua posição – ou daqueles ligados à sua administração – nas sondagens de intenção de voto”. (UOL Economia)

Esses partidários do mercado não convivem muito bem com o fato que uma coisa é a propaganda enganosa, outra é a realidade. Como o consumidor reage ao produto oferecido. Pior ainda: por que a recuperação da atividade é tão lenta e a sensação de crise ainda é predominante para muitos brasileiros? Eles mesmos perguntam por que a sensação de crise persiste mesmo com a recuperação da economia? (UOL Economia).

Não revelam a resposta. Ou não podem revelar. Urge passar o trator sobre tudo que ainda resta de autonomia econômica e soberania nacional. Não resta muita coisa mais.

Temos analisado incessantemente os fundamentos dessa incapacidade da economia brasileira recuperar o crescimento que existia até o último choque global de 2008/2009. Uma parte de nossas observações a respeito está nos nossos dois boletins acima linkados.

O mais surpreendente, entretanto, é como essa economia é tão resistente a uma recuperação com índice razoável de crescimento do PIB, mesmo quando o restante da economia mundial experimenta crescimento maiores, como no ano passado? Apenas um pibinho de 1% quando todo mundo está aproveitando certa expansão global?

Não precisa ir muito longe. Veja os resultados de crescimento do PIB de alguns de nossos vizinhos latino-americanos em 2017:

Paraguai: 4,0%

Bolívia: 3,9%

Uruguai: 3,0%

Argentina: 3,0%

México: 2,2%

Colômbia: 1,8%

Chile: 1,5%

Haiti: 1,3%.

Contra os fatos não há baba que convença o distinto público. É neste quadro de fracasso da nova política dos parasitas que o secretário Carlos “Marrom” Marun recrimina a nossa “caravana do atraso” (cuja carapuça vestimos orgulhosamente) porque insistimos em dizer que não estamos no caminho certo. Pelo menos para a maioria esmagadora da população brasileira não estamos no caminho certo. Pelo menos para aquele noventa por cento da população do país que é obrigada a vender continuamente sua força de trabalho no mercado em troca de um salário para não morrer de fome não estamos no caminho certo.

Assim, “Marrom” Marun, cujos patrões precisam bombear de maneira ampliada e contínua o sangue dos 90% de assalariados produtivos, acaba prestando um prático ensinamento econômico à nação: o belo pibinho dos parasitas de 1% em 2017 mostra para quem é certo o caminho atual e quem deve urgentemente jogar no lixo todo esse parasitismo reinante e impor seu próprio caminho.

http://criticadaeconomia.com.br/o-pibinho-dos-parasitas/

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