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Levantamento mostra que, sem imigrantes, EUA perderiam quase metade de suas 500 maiores empresas

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Fernando Duarte – Sergey Brin, um dos criadores do Google, nasceu em Moscou, em 1973, mas imigrou para os Estados Unidos com sua família quanto tinha seis anos.

A Fortune 500, famosa seleção das maiores companhias nos Estados Unidos por receita total, teria que mudar de nome se desconsiderasse a participação de negócios fundados por imigrantes ou por sua segunda geração.

O ranking, nesse caso, teria de se chamar Fortune 284, aponta estudo do Center for American Entrepreneurship (CAE) (Centro para Empreendedorismo Americano, em tradução literal), um think-tank sediado em Washington.

O estudo estima que 216 (43%) das companhias listadas na edição 2017 do ranking da revista de negócios Fortune foram implantadas por imigrantes ou seus descendentes. Isso inclui pesos pesados, como Google e IBM.

De acordo com os pesquisadores do CAE, a incidência de fundadores de empresas que são imigrantes de primeira ou segunda geração é consideravelmente maior entre as maiores companhias da Fortune 500 – representando 52% das 25 principais empresas e 57% das 35 maiores.

Predominância

Em 2016, esses negócios empregaram 12,8 milhões de pessoas ao redor do mundo e acumularam uma receita global de US$ 5,3 trilhões, valor que equivale a R$ 17,53 trilhões e supera o PIB do Japão, terceira maior economia do mundo.

As conclusões foram apresentadas a vários congressistas americanos dos dois lados da Câmara (Republicanos e Democratas) numa tentativa de combater uma série de medidas com restrições à imigração implementadas pelo presidente Donald Trump, especialmente a decisão de acabar com o programa Dreamers.

O programa foi criado para evitar a deportação de cerca de 800 mil imigrantes sem documentação que foram levados ilegalmente para os EUA quando crianças.

“Os resultados são impressionantes, mas não devem ser uma surpresa. Há boas evidências em muitos países de que imigrantes iniciam empresas numa taxa maior do que os residentes nativos. Alguns economistas argumentam que também é mais provável que aqueles que se mudam para outro país assumam o risco de começar seu próprio negócio, disse Ian Hathaway, diretor de pesquisa do CAE, à BBC.

“Em segundo lugar, a experiência de ser imigrante ensina a ser criativo e a lidar com a ambiguidade e a adversidade. O terceiro ponto é que os imigrantes não têm conexões sociais importantes para encontrar trabalho – o que é, de longe, como a maioria das pessoas consegue emprego”, acrescentou.

Hathaway não hesita em ressaltar que a manutenção do programa Dreamers e medidas como a criação de vistos especiais para empreendedores imigrantes têm mais do que um aspecto simplesmente humanitário.

“A partir de uma perspectiva humanitária, o dano é óbvio – nós podemos estar destruindo famílias e enviando crianças e jovens adultos para países com os quais eles têm pouca ou nenhuma conexão. Mas há certamente um impacto econômico. É provável que em duas ou três décadas, essas 800 mil crianças e jovens adultos fundem dezenas de milhares de companhias americanas – alguns poderão até ir parar na Fortune 500.”

A pesquisa do CAE mostra que a maioria dos 216 negócios de imigrantes ou de sua segunda geração está no setor de alta tecnologia (43), seguida de varejo e finanças ou seguros (26). Mas elas estão representadas em cada ramo de negócio na Fortune 500, incluindo a produção de automóveis.

Empreendedores

A Ford, por exemplo, é vista como uma das empresas que são a cara dos EUA. Mas seu fundador, Henry Ford (1863-1947), era na verdade filho de pai irlandês e de mãe nascida como filha mais nova de imigrantes belgas.

Essas origens, porém, podem não surpreender, dado o enorme fluxo de imigrantes que se mudaram para o Novo Continente no século 19.

Outro caso é o da gigante da aviação Boeing, fundada por Wilhelm Boeing, filho de imigrantes alemães e austríacos.

E o Facebook, apesar da associação imediata e óbvia com Mark Zuckerberg, teve o empreendedor e investidor brasileiro Eduardo Saverin como cofundador.

Mas a lista da Fortune mostra que o fenômeno ainda está em andamento. Um exemplo é a Tesla, líder na revolução dos carros elétricos, que é uma iniciativa do imigrante sul-africano Elon Musk. Outro caso é o de Sergey Brin, um dos criadores do Google, que nasceu em Moscou, em 1973, mas imigrou para os Estados Unidos com sua família quanto tinha seis anos de idade.

A ideia de trabalhar duro para construir seu próprio caminho geralmente é estimulada nos filhos dos imigrantes. Muitos vieram para este país (EUA) para ter uma vida melhor – seja para fugir de dificuldades econômicas, políticas ou de ambos.

Ian Hathaway, diretor de pesquisa do CAE

“Esse princípio de crescer e dar a seus filhos uma vida melhor é estimulado nas crianças. Temos algumas evidências sobre isso também – um estudo recente de Harvard mostrou que, dos fundadores imigrantes de empresas, aqueles que chegaram como crianças tiveram os melhores resultados nos negócios em termos de taxas de sobrevivência e crescimento “, acrescenta.

Assim, os programas que protegem os imigrantes mais jovens seriam ainda mais cruciais, já que o estudo mostra que quase uma em cada quatro empresas da lista Fortune 500 (24,8%) foi fundada por um filho de imigrante.

“Ficamos surpresos com o tamanho do papel que os filhos dos imigrantes desempenham nisso. É expressivo, mas em um aspecto muitas vezes esquecido. O impacto econômico da demografia se desenrola lentamente ao longo do tempo. Os imigrantes que vêm a este país hoje têm um impacto, mas é mais provável que seus filhos, com melhor educação e mais oportunidades, tenham um impacto ainda maior, embora apenas daqui a várias décadas.”

https://economia.uol.com.br/noticias/bbc/2017/12/18/levantamento-mostra-que-sem-imigrantes-eua-perderiam-quase-metade-de-suas-500-maiores-empresas.htm

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