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EUA não são país para crianças

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Clóvis Rossi – Excesso de armas só pode levar a excesso de matança.

Os EUA – esse formidável ímã para brasileiros e para uma multidão de outros– são, não obstante, a mais perigosa das nações ricas para uma criança nascer.

É o que informa estudo recente da publicação Assuntos de Saúde, citado com amargura por David Leonhardt, o editor da newsletter de Opinião do “New York Times”: É difícil imaginar uma distinção pior para um país.

É óbvio que a mais recente matança em escola americana, na quarta-feira (14), tornou mais sinistra ainda a distinção aos EUA. Mas é justo mencionar que esse fenômeno tipicamente americano é apenas um dos três fatores que levaram os EUA a se tornarem um país que não é para crianças, a saber:

1 – Os outros países ricos foram mais bem-sucedidos em reduzir a mortalidade infantil, por motivos que ainda não são plenamente conhecidos, mas, diz Leonhardt, a desequilibrada rede de proteção social americana parece ter um papel.

2 – Outros países também reduziram mortes em acidentes com veículos, que afetam especialmente adolescentes.

3 – Aqui, sim, entra o ritual tipicamente americano de matança de crianças em santuários do aprendizado, como o definiu outro colunista do Times, Dan Barry.

Fiquemos no item 3 porque há uma permanente tentação no Brasil de liberar a posse indiscriminada de armas, ainda mais agora que um pré-candidato (Jair Bolsonaro), adepto da tese, está em segundo lugar nas intenções de voto.

No caso dos Estados Unidos, surpreende que um país tão ilustrado, sede de universidades e centros de pesquisas de excelência, não consiga ligar os pontos e entender que a obsessão pelas armas é uma causa evidente do ritual tipicamente americano de matanças de crianças e, de quebra, de matanças também de adultos.

Dados que comprovam o caráter americano do ritual:

1 – homicídios por arma de fogo nos EUA são em número 49 vezes mais elevado do que outros países ricos, mostra o citado estudo da Assuntos de Saúde;

2 – Com 5% da população mundial, os EUA têm 50% das armas de fogo em mãos de civis.

A única variável que pode explicar a alta taxa de tiroteios em massa na América é o seu astronômico número de revólveres, escreve Max Fisher, titular de uma coluna que contextualiza grandes  eventos mundiais, sempre no “Times”.

Fischer dá números para sustentar seu contexto: os Estados Unidos têm 270 milhões de armas e tiveram 90 tiroteios em massa de 1966 a 2012. Nenhum outro país tem mais do que 46 milhões de armas ou mais de 18 tiroteios em massa.

É evidente que o Brasil tampouco é exatamente o paraíso para o nascimento de crianças (ou para a vida dos adultos), como se está vendo no Rio de Janeiro. Mas a resposta não pode ser a liberação das armas e, sim, ao contrário, recuperar o monopólio delas para as forças da ordem o que se pretende fazer com a intervenção federal no Rio.

Suspeito que só dará certo se, simultaneamente, se começar a discutir a questão das drogas porque a política simplesmente repressiva fracassou, do que dá prova​ definitiva a intervenção no Rio.

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/clovisrossi/2018/02/eua-nao-sao-pais-para-criancas.shtml

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