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Aumento de renda leva a crescimento no nº de mães solteiras nos EUA

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Stephen J. Dubner e Steven D. Levitt – Eis um fato surpreendente: em 1960, mulheres solteiras eram responsáveis por somente 5% dos nascimentos nos Estados Unidos. Em 2014, elas eram responsáveis por mais de 40%.

O aumento tem implicações possivelmente preocupantes para o futuro dos Estados Unidos. Melissa Kearney, uma economista da Universidade de Maryland que estudou a relação entre renda e estrutura familiar, aponta que crianças que vivem com seus pais casados têm índices mais baixos de pobreza, menos problemas comportamentais e melhor saúde. Elas também têm uma maior probabilidade de se formarem no ensino superior.

Em compensação, crianças que crescem com mães solteiras e menos instruídas tendem a não se sair tão bem quanto seus colegas com pais casados.

Então por que esse aumento tão grande no número de mães solteiras? Conservadores costumam apontar para o colapso das normas sociais tradicionais. Progressistas citam o baixo acesso à contracepção (embora as coisas tenham melhorado consideravelmente nessa área) e a falta de oportunidades econômicas —ou seja, as mulheres têm menor probabilidade de se casarem com homens sem perspectivas estáveis de emprego. Acadêmicos como Kearney chamam isso de teoria dos “homens casáveis”.

A ideia é que à medida que os empregos foram desaparecendo do centro industrial dos Estados Unidos nas últimas décadas, o número de “homens casáveis” também encolheu, levando a um aumento no número de mães solteiras. Deduz-se que se as oportunidades econômicas voltassem para essas comunidades carentes de infraestrutura, os índices de casamento supostamente aumentariam.

Contudo, pesquisas recentes feitas por Kearney e seu colega Riley Wilson complicaram essa análise. Em um artigo ainda não oficial para o National Bureau of Economic Research (NBER), Kearney e Wilson estudaram o impacto do boom do “fracking” em meados dos anos 2000 sobre comunidades em alguns Estados, inclusive Pensilvânia, Oklahoma, Texas, Virgínia Ocidental e Ohio.

O boom na extração de petróleo e de gás criou um número estimado de 725 mil empregos entre 2005 e 2012, de acordo com um estudo anterior do NBER, ao mesmo tempo em que aumentou os salários dos trabalhadores.

A teoria de Kearney era que um impulso na capacidade financeira de homens nessas áreas levaria a um aumento no índice de casamentos e a uma diminuição no número de mães solteiras.

Mas não foi o que aconteceu. O boom do fracking levou a um aumento significativo na fertilidade, o que era esperado. No entanto, os índices de casamento não aumentaram; todas as mulheres, casadas ou solteiras, simplesmente tiveram mais bebês.

O interessante é que nos idos dos anos 1970 e 1980, durante o boom do carvão na região americana de Appalachia, tanto o número de casamentos quanto o de nascimentos dentro de casamentos aumentou, ao passo que o índice de nascimentos fora do casamento diminuiu —um fato que Kearney atribui em parte a mudanças nas normas sociais.

Décadas atrás havia um “estigma social” atrelado a filhos nascidos fora do casamento, mas hoje “estamos em um período em que nascimentos fora do casamento são extremamente comuns entre populações menos instruídas”, diz Kearney. “O que estamos vendo agora é que se você tem mais renda, você tem mais bebês. Não importa se você é casada ou não”.

Ninguém, muito menos Kearney, quer criticar mães solteiras de baixa renda. Mas seu estudo de fato sugere que se estamos dispostos a reconhecer que crescer em lares com só um dos pais é um problema para as crianças —e é o que a pesquisa sugere— então precisamos pensar para além de soluções econômicas para tratar do aumento de bebês nascidos de mães solteiras.

O que nos leva a uma tendência recente em fertilidade nos Estados Unidos que é genuinamente positiva: a diminuição drástica no número de gravidezes na adolescência (64%!) desde 1991.

De acordo com Kearney, que estudou o tema em profundidade, o declínio resultou, entre outras coisas, dos efeitos econômicos da Grande Recessão, mas também de “uma demanda reduzida entre mulheres jovens de se tornarem mães adolescentes”. E essa mudança parece ter sido parcialmente em função, acreditem se quiserem, da exposição de meninas a uma série-documentário da MTV chamada “16 and Pregnant” (Grávida aos 16 anos), que mostrava os desafios da maternidade adolescente sob uma perspectiva particularmente dura.

Kearney e seu parceiro de pesquisa Philip Levin conseguiram demonstrar que o programa “16 and Pregnant” (que teve cinco temporadas, entre 2009 e 2014) foi responsável por uma redução de 5,7% no índice de bebês nascidos de mães adolescentes nos 18 meses que se seguiram diretamente à estreia do programa.

Para Kearney, o poderoso impacto do programa teve a ver com sua capacidade de dialogar diretamente com preocupações que os adolescentes têm. “Tem a ver com atrair adolescentes dizendo, ‘Olha, a maternidade é difícil. Isso realmente não se encaixa no estilo de vida que você provavelmente quer ter como uma adolescente”.”

Tudo isso sugere que, juntamente com o acesso à contracepção e a mais oportunidades econômicas e educacionais, talvez o que realmente precisemos para conter o aumento no índice de mães solteiras seja simplesmente de um bom reality show. Que tal “Solteira e Grávida aos 25 anos”?

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